O despertador toca, já é de manhã e o dia voltou novamente há rotina normal. Olha para a cabeceira e guarda uma caixa dentro da gaveta. Toma banho rapidamente veste-se e vai para a cozinha onde encontra Simão que já tomava o pequeno almoço a ler o jornal.
“ Bom dia Ana, dormiste bem?”
“Bom dia” – e dá-lhe um beijo na face.
“ Ontem não tive tempo de te dizer mas temos um jantar hoje com uns investidores.”
“ A que horas?”
“ Às 21h, está bem para ti?”
“ Sim, parece bem.”
“ Então vá, até logo.” – levanta-se da mesa dá-lhe outro beijo na face e sai apressado.
“ Até logo.”
Todo o dia Ana pensou no jantar, queria impressionar o marido que ele reparasse nela, que lhe dissesse uma palavra carinhosa, um sorriso. Decidiu ir ao cabeleireiro e comprar roupa nova, sapatos e mala a condizer. Estava feliz quando vestiu aquele vestido azul turquesa que lhe caía que nem uma luva, rodopiou à frente do espelho e pensou que esta noite seria muito especial.
Quando chegou a casa arranjou-se como uma verdadeira rainha. Quando se olhou novamente ao espelho em casa, ainda estava mais contente, mas também nervosa, “ Será que o Simão vai gostar?”
Ana apercebe-se que Simão tinha chegado, quando ouviu-o a fechar o carro.
“Ana? Estás pronta?” – disse ao abrir a porta.
“ Sim, estou a descer!” Estava mais nervosa que nunca, desceu a escada devagar pois tinha medo de cair devido a ansiedade mas também porque os sapatos eram de salto alto.
Quando apareceu no patamar, Simão não reparou que o vestido era novo, nem nos sapatos, nada. A única coisa que disse foi “ Vamos?”
“Sim…” A expressão de alegria desapareceu do seu rosto.
No carro, olhava para as luzes dos outros carros e das outras casas trémulas, pois nessa noite estava a choviscar. Fechou os olhos e voltou a reviver a entrada de Simão em casa naquela noite, “ Ana … está linda! Não posso sair contigo tão bonita pois podem-me querer roubar a minha lindíssima esposa!”, agarrava-se a ela e beijava-a como no primeiro dia em que se beijaram.
“Chegámos…”
“ ãh? – acorda de sobressalto – ah sim…”
O jantar foi chato, como o esperado. O investidor era alemão e só Simão sabia falar essa língua complicada e, claro, Ana não conseguiu falar com a Sra Schwartz pois ela não pescava nada de português . Limitaram-se a sorrir de vez em quando uma para a outra. Depois do jantar Simão convidou os Schwartz a ir a um casino, a desculpa era ainda não terem acertado bem o negócio.
“ Bolas…”
“Só mais um pouco…é importante.”
No casino melhorou um pouco já não era preciso falar, mas sim jogar e aí a Sra Schwartz era completamente viciada, até deu a Ana dinheiro para ela jogar nas slots machines, enquanto eles foram para a zona reservada a sócios.
Com um copo cheio de moedas começou a jogar na primeira slot que viu. Moeda atrás de moeda e nada só lhe restavam 3 moedas quando decidiu afastar-se da Sra Schwartz para tentar numa slot que lhe chamou a atenção por ter uma pantera desenhada.
“ Vou tentar a sorte naquela. – disse à sua companheira de jogo, que como era de esperar fez uma careta, Ah.. pois não percebe pois não? Até já… Chau..”
A primeira jogada não deu em nada ficou com a moeda e nem sequer conseguiu jogar!
“ Bolas…esta máquina está parva, comeu-me a moeda! Filha da mãe!”
Mas mesmo assim tentou outra, também estava só a jogar para se divertir e não para ganhar. A máquina tinha qualquer coisa que a magnetizava, parecia que os olhos da pantera se mexiam. Voltou a tentar “ vamos ver se comes a moeda outra vez…”, puxou a manivela com força e qual não é o seu espanto quando sai um papelinho da máquina.
“ Mas que raio?!?!?....”- pegou no papel e leu “ Parabéns! Acabou de ganhar um prémio de 50.000 euros. Queira levantar o seu prémio na caixa”.
“Ãh?!?!?!”- disse incrédula - ”Não acredito…”
“ Anna! Anna!” era a Sra Schwartz a gritar por ela com o copo cheia de moedas, parecia ter ganho numa slot um prémio.
Ana limitou-se a felicitá-la e com linguagem gestual, mostrou-lhe o copo que tinha com um única moeda lá dentro. “ Não tive tanta sorte…” ; então a Sra Schwartz dividiu o copo dela com o seu para continuarem a jogar.
Continuaram a jogar até a Sra Schwartz se distrair e não se aperceber que Ana saíra do seu lado para se dirigir à caixa.
“ Boa noite, deseja alguma coisa, mais moedas, fichas?”
“ Boa noite… ah… saiu-me este papel…”, disse Ana como se fosse um segredo e mostrou-lhe o papel com as mãos trémulas, mas não deixou que a empregada toca-se no ticket.
“ Ah! Parabéns ganhou um prémio avultado. Mas se não me der o papel não lhe posso dar o prémio…”
“…e... pois...” Após alguma hesitação entregou o ticket à empregada.
“ Pois muito bem, - confirmando a veracidade do papel -, quer receber o seu prémio em dinheiro ou em cheque?”
“ … em cheque… “ – disse sem pensar pois não acreditava no que estava a acontecer.
Meteu o cheque na mala e voltou para o pé da Sra Schwartz que nem deu conta que a sua companheira saíra por alguns minutos do seu lado.
“ Minhas senhoras sei que estavam a divertir-se muito, mas chegou a altura de irmos para casa!” - era Simão, piscou-me o olho sinal de que tinha corrido bem , o negócio estava fechado.
Quando se deitou na cama estava estoirada, não contou nada a Simão era o segredo dela, tinha medo se contasse que o cheque desaparecesse. Olhou para a gaveta estendeu a mão para abri-la, hesitou e em vez de a abrir desligou a luz do seu candeeiro.
“ Até amanhã”
“ Até amanhã”