O telefone toca já passa das 3 da manhã. Clarisse Miles já estava deitada e pediu por tudo que o telefone deixa-se de tocar. Quando ele se calou, soltou um suspiro de alívio, mas assim que se virou para o outro lado ele voltou a tocar.
“ Que chatice! - não quis acender o candeeiro, andou ainda um bom bocado às palpadelas a ver se alcançava o telefone - Sim?...”
“ Estou? Estou a falar com a Sra Clarisse Miles?” – perguntou o Sargento Smith.
“ Sim…, és tu Ray? Sabes que horas são? Espero que seja realmente importante, uma senhora da minha idade precisa de descanso…”
“ Peço imensa desculpa, mas acho que só a senhora me pode ajudar.”
“ Então diga lá!” – enquanto se ajeitava na cama, parecia que a conversa se ia prolongar mais do que esperava.
Passada uma hora chega um carro à entrada da esquadra da polícia. Agora podemos ver como é a Sra. Miles. Tem perto de setenta anos, pequenina, mas com um ar muito sereno, apesar de ao telefone estar um pouco alterada.
O sargento Smith estava à porta à sua espera com um sorriso de cumplicidade e de gratidão, era difícil tirá-la da cama àquela hora.
“ Obrigada por ter vindo tão depressa Sra. Miles…” – dando um beijo na mão de Clarisse.
“ Os amigos são para as ocasiões, não é assim Ray?” – tratando-o quase de forma maternal – “ Então onde está essa rapariga, a Anne?”
“ Ana. Ela está lá dentro. Venha comigo.” – abrindo a porta para ela entrar. – “ Aceita um chá, Sra Miles?”
“ Sim claro! Chá preto por favor” .
No gabinete do sargento Smith tomaram o chá enquanto falavam de Ana.
“ A família dela já sabe que ela está cá?” – perguntou Sra. Milles após tomar um pouco do seu chá preferido.
“ Ainda não, não consegui tirar-lhe muita informação...sabe, ela parece muito confusa…” – disse o sargento Smith.
“Compreendo, ela precisa de se acalmar. Ir para a quinta vai fazer-lhe bem, aqui só vai fazer com que ela fique pior…”
“ Por isso mesmo é que chamei a Sra. Milles, sei que não me vai deixar mal e também que Ana vai ter tudo o apoio que necessita. De certeza que consigo ela vai dar-nos a informação necessária para podermos informar os seus familiares onde está e que se encontra bem”.
Levantando-se de uma só vez e de forma um pouco inesperada, até assustou o sargento pela forma como se levantou decidida, e disse:
“ Bom o chá estava óptimo, mas vamos ao que nos trouxe aqui, certo? Onde está Ana?”
“Certo… Por aqui por favor… “ – disse o Sarg. Smith abrindo a porta que dava para as celas.
Passaram um corredor longo , a Sra. Milles ia à frente, vestido preto com um colar de pérolas e o cabelo arranjado, como se da rainha de Inglaterra se tratasse. Agora, vista de frente dá para ver como os seus olhos são azuis muito claros, dando-lhe um ar de firmeza mas ao mesmo tempo de uma grande doçura.
“ Ela está na primeira cela, pode entrar. Quer que vá consigo?”
“ Não obrigada.”
“ Se precisar de alguma coisa estou aqui” – disse Sarg. Smith abrindo-lhe a porta que dava à ala das celas.
“ Acho que não vai ser necessário.” – os seus olhos já repousavam na imagem de Ana.
A Sra Miles aproximou-se silenciosamente da cela onde estava Ana, nem a própria reparou que alguém se aproximava, tão perdida que estava nos seus pensamentos. Sentada a olhar fixamente para o chão, não conseguia tirar da cabeça como é que a sua melhor amiga a tinha desertado e não vinha em seu auxílio…
“ Olá Ana, como está?”- disse a Sra Miles quando chegou à frente das grades da cela de Ana.
“Quem é você?” – disse Ana , estranhando a presença daquela mulher.
“ Eu sou a Sra Clarisse Miles e vim buscá-la…”
“ Eu não vou para lado nenhum sem a minha amiga Marta. Onde é que a meteram, quero saber! Onde é que ela está?”
“ Calma… ela deve estar bem, pois pelos vistos está aqui sozinha, não é?”
“ Não, não estás! Diz-lhe estás connosco!” “ Não diz nada, está calado…” – Ana põe as mãos na cabeça e manda os calar interiormente. Nisto a Sra Miles estende a mão para dentro da cela e diz-lhe: “ Ana, está tudo bem eu estou aqui para a ajudar. Eu sei que está tudo confuso, é perfeitamente natural. E que tal esperar pela sua amiga num sítio mais confortável que uma cela – olhando e mostrando a cela a Ana , cela era fria e húmida onde só se podia sentar numa cama dura com um colchão velho e co cheiro a bafio - onde pode tomar um banho quente , comer uma boa refeição para depois dormir numa cama bem fofa, o que acha?”
Ana olhou em seu redor e constatou o que a Sra. Clarisse lhe dizia. Ela estava estoirada, cansada a precisar de dormir e esfomeada … não queria nada ficar ali… acabou por ceder, estendendo a mão a Clarisse Miles.
“Não se preocupe Ana, se a sua amiga vier cá o Sargento Smith sabe a minha morada…, está bem? Ray, por favor, abra a cela a Ana que ela vem comigo!”
“ É para já.”
No caminho não falaram. Ana estava cansada tinha sido um dia muito longo. No entanto ficou impressionada com a Sra Miles que já nos seus setenta conseguia conduzir com a destreza de uma rapariga nova e estranhando imenso a condução no lado direito dos ingleses.
Saíram da cidade e meteram-se em rua secundárias sem luzes e onde o arvoredo ia densificando-se cada vez mais, até que só viam alguns pontos de luz ao longe da cidade. Depois de algumas curvas apertadas e pouco apropriadas a cardíacos e, ainda mais a quem está habituado a conduzir pela esquerda, chegaram a um grande portão, ladeado de grandes arbustos.
“ Bem, chegámos!” – disse a Sra Miles quando chegou ao portão de ferro que se abriu mal ela accionou com um comando.
2 comentários:
Muito bem!!!!!
Jorge
isso dizes tu porque me amas!!!
Filipa B.
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