Ana é o seu nome. A rapariga que sobe penosamente esta rua é ela. Está pensativa, no que pensará ela? Tem um olhar pesado, triste, passa a mão no cabelo e tenta esconder o seu olhar, quer passar despercebida. Suspeito que queira estar só.
A manhã correu mal, chegou novamente atrasada ao trabalho, levou um raspanete do patrão é claro, mas não é isso que a perturba. Não! Continua a subir a rua e continua completamente absorvida nos seus pensamentos quando passa por uma montra onde vendem electrodomésticos e repara numa das televisões enormes. Sem conseguir ouvir o som que vem da televisão, vê um cantor famoso rodeado de fotógrafos e de fãs à chegada a um coliseu onde iria dar um concerto. Sorridente, distribuía beijos e abraços às fãs que saltavam a barreira de segurança e pousava com elas para os fotógrafos. Ele aparece me grande plano com óculos escuros, muito apropriado para a noite…, e fala animadamente para um dos jornalista que lhe faz perguntas. “ sim – pensou ela, eu gostava de estar ali, bem melhor do que aqui…”.
Aqui. Ana queria referia-se à vida que ela tinha. Simplesmente rotinas: acordar, trabalhar, dormir … ah… e ainda tem o Simão. Simão é o seu marido. Casaram-se há 2 anos ainda não têm filhos. Também não fazem parte dos planos deles, sobretudo porque Simão é um engenheiro de sucesso e está quase sempre a trabalhar.
Segue o seu caminho após estes breves momentos fora de órbita e regressa ao seu caminho a casa. Ao chegar a casa, tira o casaco e dirige-se para a sala de onde vem o barulho quase ensurdecedor da televisão.
“ Golooooooo!!!!”
“ Boa noite também para vocês…” – diz ela com um olhar pouco espantado, pois era frequente às quartas-feiras à noite reunirem-se lá em casa com o Simão , o Rui e o Francisco .
Mas ninguém a ouviu, gritavam e pulavam como se de crianças se tratassem.
Respirou fundo e começou a apanhar algumas latas de cerveja que estavam vazias no chão, quando se dirigia para a cozinha, Simão disse “ Amorzinho trazes mais por favor”.
Abriu o frigorífico tirou as cervejas, foi à sala e deixou-as em cima da mesa.
“ Obrigada amorzinho, mas tenta para a próxima não te pores à frente da televisão, ok? Estamos a ver 1º mão dos quartos-de-final da liga dos campeões…”
“ Ah…”Ana olhou para a televisão e depois para eles, que patético! Rui era um homem pequeno e gordinho, muito vermelho nas faces parecia que ia rebentar a qualquer momento, hoje ainda mais pois quando via um jogo de futebol ficava pior que um chouriço. Francisco é diferente mais magro, alto gosta de sofrer quando vê futebol a única coisa que diz durante o jogo é “ corre,corre…” ou “ vai,vai,vai…” e faz com caretas e gesticula muito durante o jogo… Simão gosta de ver futebol mas não sofre tanto com o jogo. Dos 3 é o único que mantém a calma, estuda os lances ao pormenor e no final costuma sempre apresentar alternativas ao 11 sempre melhores que a do treinador.
Ana vai para o quarto para mudar de roupa, não lhe apetece jantar, prefere vestir o pijama e deitar-se na cama e começa a ler um livro, rapidamente adormece ao som vindo da sala :“ Vai, vai, vai… corre, corre… ena pá!”
Passado algum tempo sente passos e o acender da luz no quarto: era Simão.
“ Então ganharam?”
“ Não, empatamos. Boa noite.”
“ Boa noite.”
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